Tudo junto e misturado
- Comunicando Amor
- 25 de mai. de 2017
- 3 min de leitura

Como a infância e a adolescência são períodos de formação também no que se refere à sexualidade, catalogar objetos, cores, roupas como “para meninos” e “para meninas” acaba por gerar uma distorção na compreensão da realidade dos pequenos. Mesmo maquiagens e vestidos não precisam ser banidos entre os garotos: É comum usar da fantasia e dos personagens para superar situações reais, assim como usar batom ou esmalte pode ser uma expressão artística. Isso não irá “transformar” a criança em hétero ou homossexual. Essa será uma descoberta futura, sem qualquer relação com os brinquedos que utilizou quando menor. O saudável é permitir que se explore alternativas sem julgamento. “Os pais devem saber entender e estimular as escolhas dos filhos”, diz Quezia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
A mudança não passa somente pelo âmbito da ficção: com a família, as crianças devem dividir responsabilidades desde cedo, independentemente do sexo. “Não é para o menino ir jogar futebol enquanto a menina ajuda a mãe na cozinha”, explica a ministra, “ambos devem ajudar na cozinha e ambos podem jogar futebol”.
Outro cuidado a ser tomado é quanto à linguagem empregada pelos adultos. Expressões como “gay”, “de mulherzinha” ou “como uma menina” não devem ser utilizadas com sentido pejorativo ou como xingamento. Caso ouça alguma delas entre os alunos, o professor pode organizar uma conversa em grupo para esclarecer o porquê de isso ser um preconceito. A mesma sugestão vale para a família, que deve dialogar com os pequenos sobre o assunto de forma a abrir a visão em relação aos paradigmas que dividem o universo infantil em “coisas de menino” e “coisas de menina”. É necessário estimular a colaboração em vez da divisão.
Para desestimular condições de desigualdade na escola, a educadora e coordenadora pedagógica Edna Telles desenvolveu uma iniciativa inovadora que envolve ter um momento exclusivo para as brincadeiras coletivas. O diferente da história é que todos, meninos e meninas brincam com todos os brinquedos, sem diferenciação de gênero.
Cada dia brinca-se com um tipo brinquedo. Bonecas e os brinquedos relacionados ao universo doméstico, como vassouras, fogões e panelas, num dia e bonecos, carros e jogos de aventura no outro.
"No começo houve muito estranhamento. Os meninos perguntavam se a brincadeira era só para meninas e se eles iam ficar de fora. Levou cerca de um mês para que baixassem a resistência a brincar com todos os brinquedos", diz Edna. Os meninos, segundo Edna, resistiram mais que as meninas. E a justificativa era sempre atrelada à sexualidade (eles perguntavam se iam virar gays ao brincar de boneca). Por isso as intervenções das professoras, que sugerem que eles sejam os pais ou os médicos dos bebês, lembrando-os de que pai e mãe cuidam dos filhos.
A escola passou a trabalhar o olhar para as questões de gênero também entre os professores, que mudaram algumas de suas práticas (entre elas, a divisão da turma entre meninos e meninas, que foi abolida). Isso porque é na relação com os adultos que vem a repreensão se um menino brinca de boneca, por exemplo. A criança aprende de acordo com as reações positivas ou negativas às suas ações. Ao ouvir de uma professora que diz que “chorar é coisa de marica/menina", por exemplo, a criança absorve aquele valor e compreende que chorar não é uma ação desejada.
"É aí que reside a importância dessa iniciativa, porque a atividade desconstrói estereótipos de gênero e dá às crianças a chance de vivenciar diferentes papéis e descobrir suas aptidões quando não ficam presas só a um tipo de brincadeira”, conclui.
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